REFLEXÃO/HOMILIA PARA A FESTA DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

UMA VISÃO GLORIOSA ATRAVÉS DO SOFRIMENTO

Primeira Leitura: Daniel 7,9-10,13-14
Salmo Responsorial: Sl. 96(97):1-2,5-6,9
Segunda leitura: 2 Pedro 1,16-19
Leitura do Evangelho: Mateus 17,1-9
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Daqui a aproximadamente quarenta dias, estaremos celebrando a festa da Exaltação da Santa Cruz. Desnecessário dizer que a Festa da Transfiguração cai aproximadamente quarenta dias antes da Festa da Exaltação da Cruz em 14 de setembro, porque segundo a tradição, o evento da Transfiguração ocorreu quarenta dias antes da crucificação. Essa colocação específica conecta a glória e a transformação da Transfiguração com o sacrifício final de Jesus na cruz. Isso nos lembra que a jornada rumo à glória envolve abraçar a cruz, e a Transfiguração atua como um prelúdio para a obra redentora de Cristo. A festa da Transfiguração do Senhor celebrada no Oriente desde o século V, é celebrada no Ocidente desde 1457 (século XV). Ao celebrar a Transfiguração do Senhor, a Igreja recorda o episódio da transfiguração narrado nos Evangelhos (cf. Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36) e também através de uma alusão contida na Segunda Carta de São Pedro (1,16-18), proposta pela forma litúrgica como leitura do livro do profeta Daniel (7-9-10.13-14). Através da celebração da Transfiguração nesta época do ano litúrgico, somos convidados a compreender que a vida cristã não é apenas sofrimento e cruz, mas também esperança, glória e mudança positiva. Assim como Jesus foi transfigurado na aparência, também nós somos chamados a ser transfigurados em nosso interior, renunciando ao pecado e imitando o exemplo de Cristo.

Etimologicamente, a raiz da palavra transfiguração vem do verbo grego μεταμορφομαι que significa metamorfose (conforme afirma o texto bíblico grego). É tudo sobre mudanças na forma e/ou substância. Há uma conexão semântica e semiótica com uma galáxia de palavras interligadas transversalmente. Por exemplo, em ciência, esta palavra significaria regeneração nuclear, transmutação microbiana, etc., em medicina, procedimento terapêutico, reanimação pulmonar, etc., em teologia, travessia pascal, transubstanciação sacramental, etc., em espiritualidade, cura interior, cura espiritual conversão, iluminação mística, etc., na psicologia, mudança comportamental, caráter formativo, refinamento emocional, etc., na política, transformação social, revolução ética, etc., e na educação, inovação pedagógica, mudança metodológica, transmissão tecnológica, etc. Com este conhecimento, podemos compreender a mensagem central de hoje através das leituras litúrgicas.

O profeta Daniel, na Primeira Leitura (Daniel 7,9-10,13-14) prepara-nos para a compreensão da Transfiguração de Jesus através da forma literária bíblica da visão apocalíptica, que, graças ao conhecimento da história de do Evangelho, podemos compreender a profecia de modo cristológico. Em sua visão da noite, Daniel fala de Alguém de Grande Idade de um “manto branco como a neve” e cabelos “brancos como lã”, sentado em Seu trono que era uma labareda de chamas e rodas de um fogo ardente, ao redor do qual o a corte celestial está a seu serviço. Estes são apresentados com uma pessoa que chegou com as nuvens do céu, “como um Filho do homem”, a quem é dado poder eterno, glória e seu reino que permanecerá para sempre. Esta profecia está em chave cristológica porque lemos a expressão “Filho do homem” em referência a Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (Filho do Homem e Filho de Deus). O próprio Jesus Cristo usou o nome “Filho do homem” para ajudar os ouvintes a refletir sobre sua pessoa e missão. Num nexo, torna-se interessante recordar que durante o julgamento perante Pilatos, Jesus se declara Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, e por isso foi acusado de blasfêmia, o que o levará à ignominiosa morte de a Cruz.

No Salmo de hoje (96/97), cantamos: “Cantai ao Senhor um cântico novo; cantem ao Senhor, toda a terra. Cante ao Senhor, louve o seu nome; proclame sua salvação dia após dia…” O chamado do salmista para cantar uma nova canção reflete a essência da transformação – assim como a transfiguração de Cristo foi uma nova revelação de sua natureza divina. Em meio às provações de nossas vidas, somos encorajados a erguer nossas vozes em louvor, proclamando a salvação que está tecida no mais profundo de nossa existência. Nossas lutas não nos definem; ao contrário, eles se tornam o pano de fundo contra o qual a glória radiante do Senhor brilha ainda mais.

E na carta apostólica de Pedro na segunda leitura (2Pe 1,16-19), podemos ouvir o seu testemunho como testemunho de primeira mão, que se torna para nós a esperança daquilo que nos espera na vida eterna, quando seremos como ele, como Ele é, todo brilhando com luz. Como testemunho apostólico de Pedro, somos lembrados de nossa própria jornada. Assim como a transfiguração de Jesus lhes ofereceu um vislumbre além do imediato, a jornada da Nigéria nos convida a perceber além do véu da adversidade, para vislumbrar uma terra onde reinam a justiça, a equidade e a prosperidade.

Chegando à leitura do Evangelho (Mateus 17:1-9), aprendemos que a conversa entre Moisés e Elias significa um “Êxodo” – uma jornada do sofrimento ao triunfo. Quando Moisés e Elias apareceram na montanha e conversando com nosso Salvador transfigurado, o evangelho de Lucas nos diz que eles estavam falando de sua “partida” que ele deveria realizar em Jerusalém. Ora, a palavra partida como tradução em seu texto original nos dá o termo “Êxodo”. Êxodo realmente significa partida, em outras palavras. Este êxodo deveria ser realizado em Jerusalém, de acordo com a conversa deles (Jesus, Moisés e Elias). O que isso realmente significa? E por que Moisés e Elias estão discutindo isso com ele? A resposta é simples, mas significativa: no Antigo Testamento, os profetas Isaías, Jeremias e Ezequiel repetidamente descrevem a era futura da salvação como um novo Êxodo. Quando Deus vier no futuro para salvar seu povo, ele os salvará de maneira semelhante à maneira como os salvou na época de Moisés. E Jesus em Lucas capítulo 9 é aquele que inauguraria esse Êxodo e o cumpriria. Agora, este Novo Êxodo é muito semelhante ao Antigo, e ao mesmo tempo diferente do Antigo. Ambos são semelhantes porque envolvem um caminho que tem um começo e um fim, e é um caminho que liberta o povo de Deus e o leva de volta à Terra Prometida. No entanto, eles são diferentes em sua localização e destino. O antigo êxodo começa no Egito e termina em Jerusalém (terra prometida), enquanto o êxodo de Jesus começa em Jerusalém (onde termina o antigo êxodo) e terminaria na terra prometida celestial (Jerusalém celestial). É por isso que o evangelho de Lucas termina com Jesus não apenas sendo ressuscitado dentre os mortos, mas também com sua ascensão ao céu. Portanto, este êxodo ou partida é a morte, ressurreição e ascensão à terra prometida celestial. Portanto, o êxodo que ele deseja realizar é o êxodo celestial e não o êxodo terrestre – uma realidade transcendente, um êxodo maior. A única maneira de fazer isso é através do sofrimento e da cruz.

Queridos amigos em Cristo, ao meditarmos no relato da Transfiguração de Cristo, somos convidados a ver além dos véus do sofrimento que às vezes cobrem nossa visão. Assim como os discípulos testemunharam a glória radiante de Cristo além de sua aparência terrena, nós também somos chamados a ver além da superfície de nossos desafios e entender que estamos em êxodo com Cristo para um futuro melhor. Em meio à agitação política e dificuldades econômicas, vamos cultivar uma visão coletiva para a Nigéria – uma visão de uma nação que transcende suas lutas e se torna uma luz guia de esperança, onde as aspirações compartilhadas eclipsam as sombras da divisão. Enquanto estamos na interseção do sofrimento e da esperança, a Festa da Transfiguração nos lembra que a mudança é possível mesmo em meio à adversidade. Assim como os discípulos testemunharam a transfiguração radiante de Cristo, devemos testemunhar o poder transformador da unidade, esperança e sonhos compartilhados. Abracemos a metamorfose que transforma o sofrimento em força e os desafios em oportunidades.

Ao participarmos da Eucaristia hoje, lembremo-nos de que, assim como a glória de Cristo brilhou através de Sua forma transfigurada, nossa esperança coletiva pode brilhar nos momentos mais sombrios, iluminando um caminho para uma Nigéria que floresce em unidade, justiça e prosperidade – uma Nigéria que é um testemunho do poder efetivo da esperança em meio ao sofrimento.

(CLIQUE AQUI PARA A REFLEXÃO DO PRÓXIMO DOMINGO: REFLEXÃO/HOMILIA PARA O DÉCIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM)

OU

(CLIQUE AQUI PARA A REFLEXÃO DO PRÓXIMO DIA: REFLEXÃO/HOMILIA PARA SEGUNDA-FEIRA DA 18ª SEMANA DO TEMPO COMUM)

Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Paróquia Nossa Senhora de Loreto, Vila Medeiros, São Paulo, Brasil
nozickcjoe@gmail.com / fadacjay@gmail.com

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Chinaka Justin Mbaeri

A staunch Roman Catholic and an Apologist of the Christian faith. More about him here.

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