VOZ DO LOGOS: REFLEXÃO/HOMILIA PARA QUINTA-FEIRA DA 27ª SEMANA DO TEMPO COMUM, ANO 1

Muitas pessoas já ficaram cansadas de rezar em algum momento, depois de meses ou até anos rezando e parece que o céu está em silêncio. Você jejuou, fez novenas, foi em vários lugares de oração e até pediu pra outros rezarem por você, mas nada muda. Você olha ao redor e vê que quem nem liga pra Deus está indo bem na vida. Constroem casas, compram carros, viajam, conseguem emprego, e tudo parece dar certo pra eles. Enquanto isso, você continua esperando e rezando. Às vezes dá vontade de parar, porque parece que Deus tem favoritos. Você pensa: “Pra quê tudo isso?” Você se arrasta pra igreja, canta, reza, e volta pra casa com o coração pesado. Quando alguém diz “continua rezando”, dá vontade de responder: “Mas até quando?”. Se você já se sentiu assim, então as leituras de hoje são exatamente pra você.

Na primeira leitura (Malaquias 3,13-20b), o povo de Israel também estava frustrado com Deus. Eles tinham voltado do exílio na Babilônia e achavam que, depois de reconstruir o Templo, tudo ia ficar bem. Mas não foi o que aconteceu. Esse livro de Malaquias foi escrito por volta de 450 anos antes de Cristo, no tempo de Neemias, quando Israel ainda estava sob o domínio dos persas. Os sacerdotes já estavam relaxados com o culto, e o povo achava que a religião não fazia mais sentido. Eles reclamavam: “É inútil servir a Deus; o que ganhamos guardando seus mandamentos?” (Ml 3,14). Era um grito de desânimo, não de rebeldia. Eles esperavam bênçãos visíveis, mas só viam dificuldades. O profeta Malaquias, cujo nome em hebraico Mal’akhi (מַלְאָכִי) quer dizer “Meu mensageiro”, foi enviado pra corrigir esse pensamento. Ele lembrou que Deus nunca esquece os fiéis e que um “livro de recordação” foi escrito pra aqueles que O temem. A palavra usada pra “temer” é yir’ah (יִרְאָה), que não quer dizer medo, mas respeito confiável, uma reverência que continua acreditando mesmo quando nada faz sentido. Malaquias ensinava que a fé não se mede por resultados rápidos, mas por uma confiança que resiste até no silêncio.

O Salmo Responsorial (Salmo 1) continua com a mesma mensagem, mostrando a diferença entre o justo e o pecador. O salmista diz que o justo é como uma árvore plantada à beira de um rio. A palavra em hebraico pra “plantada” é shatul (שָׁתוּל), que quer dizer “colocada com propósito”. Isso mostra que a posição do justo no plano de Deus não é por acaso, é o próprio Deus que planta essa árvore. O mundo pode parecer seco, mas as raízes dessa árvore bebem de uma água escondida. Às vezes, meu irmão, sua vida pode parecer seca por fora, mas se suas raízes estão firmes na Palavra e nas promessas de Deus, você não vai morrer. Pode não dar frutos agora, mas na hora certa, vai dar. O salmo lembra que Deus não é injusto; Ele sabe quem confia n’Ele. Enquanto outros correm atrás de resultados rápidos, quem permanece em Deus parece lento, mas está sendo alimentado por rios invisíveis de graça. “O Senhor cuida do caminho dos justos” (Sl 1,6). Isso quer dizer que Deus está agindo em silêncio, em formas que você não vê.

Depois vem o Evangelho (Lucas 11,5-13), onde Jesus conta a história de um homem que bateu na porta do amigo à meia-noite. Naquele tempo, as casas na Palestina tinham só um cômodo, onde toda a família dormia junto. Levantar pra abrir a porta era incomodar todo mundo. Então, quando Jesus falou sobre a insistência desse homem, as pessoas entenderam que era um gesto muito corajoso. Ele continuou batendo, não pra irritar o amigo, mas porque acreditava que o amigo ia se levantar. Jesus então disse: “Pedi, e recebereis; procurais, e encontrareis; batei, e vos será aberto.” Em grego, as palavras usadas são aiteite (αἰτεῖτε), zēteite (ζητεῖτε) e krouete (κρούετε), todas no tempo presente contínuo, ou seja, “continuem pedindo, continuem procurando, continuem batendo”. Não é uma oração de uma vez só, é um estilo de vida de confiança. Jesus estava mostrando que o silêncio de Deus nunca é descuido. Às vezes o atraso é o jeito de Deus formar o nosso coração. Ele disse: “Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que pedirem?” (Lc 11,13). Esse é o centro da mensagem: Deus nem sempre dá o que a gente quer, mas dá o que mais precisamos – Ele mesmo.

Então, meus queridos irmãos, quando a oração parecer inútil, não é porque Deus está surdo; é porque a fé está sendo purificada. Como os israelitas, a gente também tenta medir a fé pelos resultados, mas Deus mede pela confiança. Como o salmista, precisamos ser árvores que ficam firmes mesmo no tempo da seca. E como o homem do Evangelho, temos que continuar batendo, mesmo quando parece que a porta está trancada. Cada oração sem resposta ensina humildade. Cada silêncio de Deus testa o amor. Cada demora fortalece a fé. O tempo de Deus nunca atrasa. Então, se você está rezando por um emprego, uma cura, um filho, ou uma mudança na sua vida e parece que nada acontece, não pare. Continue pedindo, continue buscando, continue batendo. O silêncio de Deus não é ausência, é preparação. E, quando chegar a hora d’Ele, sua espera não vai ser em vão, porque Deus nunca esquece quem confia n’Ele mesmo na escuridão.