VOZ DO LOGOS: REFLEXÃO/HOMILIA PARA O 29º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C (DIA MUNDIAL DAS MISSÕES)

Por Que Algumas Orações Não São Atendidas

Primeira Leitura: Êxodo 17,8-13
Salmo Responsorial: Salmo 120(121)
Segunda Leitura: 2 Timóteo 3,14–4,2
Evangelho: Lucas 18,1-8

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Às vezes a gente reza, reza e reza, mas parece que o céu está fechado. A pessoa jejua, participa das vigílias, corre de uma igreja pra outra, vai de um grupo de oração pra outro, grita até ficar rouca, e mesmo assim… nada muda. Já viu gente que até vai em terreiro ou centro espiritual porque “Deus não responde rápido”? Outros param de rezar de vez, achando que Deus tem preferidos. Mas se a gente olhar bem, até na vida comum isso acontece: uma mãe que reza pelo filho doente, e o filho não melhora; um jovem que reza por um emprego, e só recebe carta de recusa. Aí muitos começam a perguntar: “Padre, por que a oração funciona pra uns e pra outros não?” Às vezes não é que a oração não funcione, é que a gente desiste cedo demais. Queremos resposta imediata, mas o céu quer fé constante. A oração não é pra quem é forte, é pra quem é teimoso, pra quem não desiste mesmo quando a resposta demora.

Mas hoje, sendo o Domingo Mundial das Missões, a Igreja lembra que a oração é o coração de toda missão. A Igreja é missionária por natureza, e cada cristão, pelo batismo, participa dessa missão. Quando o Papa Pio XI criou essa celebração em 1926, ele queria que a gente lembrasse que o Evangelho avança não pelo barulho, nem pelo dinheiro, nem pelos números, mas pela perseverança fiel na oração e no testemunho. A missão falha quando a oração falha. Muitas orações “não são atendidas” não porque Deus nos ignora, mas porque nós paramos de participar da missão Dele enquanto pedimos que Ele participe da nossa.

Na Primeira Leitura (Êxodo 17,8-13), vemos Moisés, já idoso, em pé num monte, com as mãos levantadas, enquanto Josué e o exército lutavam contra Amalec. Cada vez que as mãos dele ficavam erguidas, Israel vencia; quando caíam, Amalec vencia. Não foi a força de Moisés que ganhou a batalha, mas sua perseverança. O livro do Êxodo, escrito durante a caminhada de Israel da escravidão no Egito até a liberdade na Terra Prometida, mostra como Deus ensinou Seu povo a depender Dele em cada luta. A história de Rafidim (onde aconteceu essa batalha) não é só sobre guerra, mas sobre como a fé luta. Deus poderia destruir Amalec sem Moisés, mas quis ensinar a Moisés (e a todos nós) que a oração é uma parceria.

A palavra hebraica usada para “mãos” aqui é יָד (yad), que não significa só a mão física, mas também poder, controle, esforço humano. Quando a “yad” de Moisés ficou cansada, não era só o corpo, era o espírito ficando fraco. Aí vieram Aarão e Hur pra segurar suas mãos. Às vezes Deus deixa nossas “mãos” cansarem pra gente aprender a se apoiar nos outros. É um lembrete suave de que até os homens de Deus precisam de ajuda; ninguém reza sozinho até a vitória.

Assim também na missão: ninguém evangeliza sozinho. Como Moisés, o missionário precisa contar com a intercessão e o apoio da comunidade. A missão é sustentada por quem segura as mãos dos outros, a senhora idosa que reza o terço todos os dias por padres distantes, a criança que guarda uma moedinha para as Obras Missionárias Pontifícias, o catequista que continua ensinando mesmo quando parece que ninguém ouve.

O Salmo 121 responde a esse cansaço com confiança: “Levanto meus olhos para as montanhas: de onde virá o meu socorro?” O salmista sabia o que era caminhar por caminhos difíceis, cansado e sem força, mas aprendeu que o socorro não vem do monte em si, e sim do Senhor que fez o céu e a terra. A palavra hebraica usada pra “ajuda” é עֵזֶר (ʿezer), que quer dizer apoio, força, ajuda pra quem está fraco. A mesma palavra aparece em Gênesis 2,18, quando Deus fez Eva como “auxiliadora” de Adão. Assim, o próprio Deus é nosso ʿezer, o parceiro que nos sustenta quando não conseguimos ficar de pé. O salmo se liga direto à experiência de Moisés: quando ele olhou pra Deus e teve amigos o sustentando, veio a vitória. A lição é clara: algumas orações falham porque a gente confia só em si mesmo e não na força de Deus nem na comunidade que Ele nos dá. Quando a fé se cansa, é hora de emprestar força de quem ainda acredita.

O Evangelho (Lucas 18,1-8) traz a mesma mensagem de outro jeito. Jesus conta a história de uma viúva que insistia com um juiz injusto, pedindo justiça. Naquele tempo, as viúvas eram das pessoas mais frágeis da sociedade, sem proteção e sem poder. O juiz podia ignorar e pronto. Lucas escreveu esse Evangelho por volta do ano 80-90 d.C., para fortalecer os cristãos que já estavam cansados por causa das perseguições e demoras. Quando Jesus diz: “Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele dia e noite?”, Ele está ensinando que a fé verdadeira não é pra quem quer resultado rápido, mas pra quem não para de rezar mesmo quando tudo demora.

A palavra grega usada pra “rezar sempre” é προσεύχεσθαι (proseúchesthai), que quer dizer dirigir-se continuamente a Deus. Não é só falar, é viver voltado pra Deus, mesmo cansado. O juiz acabou cedendo, não porque ficou justo, mas porque a insistência da viúva venceu.

Neste Domingo Missionário, essa viúva representa o espírito missionário da Igreja. A Igreja continua pedindo justiça, misericórdia e salvação pro mundo, mesmo quando o mundo não quer ouvir. Como ela, a Igreja continua batendo nas portas dos corações duros, continua pregando onde o Evangelho é rejeitado, continua rezando mesmo quando os frutos demoram. A oração missionária é uma oração teimosa, aquela que não desiste da humanidade porque Deus nunca desiste de nós.

Na Segunda Leitura (2 Timóteo 3,14–4,2), São Paulo fala com seu filho espiritual Timóteo, escrevendo da prisão, já perto do fim da vida. Ele diz: “Permanece firme no que aprendeste.” As palavras de Paulo vêm cheias de experiência. Ele rezou por cura e continuou com o “espinho na carne” (2 Cor 12,7). Rezou por aceitação e foi rejeitado e preso. Mas nunca deixou de acreditar. A palavra grega usada pra “permanecer” é μένειν (menein), que quer dizer ficar firme, permanecer constante. Paulo está dizendo: “Mesmo cansado, fica firme.” Essa é a fé que não desiste, a mesma que segurou as mãos de Moisés, a mesma que fez a viúva continuar batendo, a mesma que fez o salmista olhar pro alto.

Às vezes nossas orações falham não porque Deus está em silêncio, mas porque a gente parou cedo demais. Algumas orações falham porque falamos, mas não acreditamos. Outras falham porque nos isolamos, quando Deus queria que recebêssemos ajuda dos outros. E às vezes Deus demora de propósito pra ensinar o coração a confiar mais Nele. Uma oração que não muda nossa atitude talvez não mude nossa situação. Moisés teve que continuar com as mãos levantadas, mesmo cansado, isso é fé em ação. A viúva teve que continuar voltando, mesmo ignorada, isso é oração persistente. O salmista teve que continuar confiando, mesmo cercado de problemas, isso é resistência. E Paulo teve que continuar pregando, mesmo quando ninguém escutava, isso é obediência.

Essa é a mesma obediência que a Igreja pede de nós neste Domingo Mundial das Missões: continuar anunciando o Evangelho mesmo quando o mundo parece não ligar; continuar doando mesmo com poucos recursos; continuar rezando mesmo quando os resultados demoram. O sucesso da missão não se mede por números, mas pela fidelidade. Deus não mede nossas palavras, mede nossa perseverança. Às vezes Ele deixa a gente cansar pra aprendermos a descobrir Sua força por meio dos outros.

Então, meus amigos em Cristo, se sua oração parece sem resposta, pergunte a si mesmo: suas mãos ainda estão levantadas ou já caíram? Você ainda é firme na fé, ou parou de acreditar porque se cansou? Deus não mede suas palavras, mede sua resistência. Ele muitas vezes permite o cansaço pra nos ensinar a depender da força Dele e da ajuda dos irmãos. A fé verdadeira não é barulhenta, é fiel. A oração não é pros fortes, é pros teimosos, os que continuam aparecendo diante de Deus mesmo quando o céu parece mudo.

Então, queridos amigos, quando suas mãos ficarem fracas, não as abaixe. Deixe alguém segurá-las. E quando sua fé tremer, não pare de rezar. Pode ser que o momento em que você desistir seja exatamente um instante antes do céu responder.

Neste Domingo das missões, levantemos as mãos uns dos outros, como fizeram com Moisés no monte. Apoie as missões com sua oração, com seus recursos e com seu testemunho. O mundo ainda precisa de crentes que não desistam da oração, da esperança e da humanidade. Pra cada missionário que trabalha escondido em algum canto do mundo, sua oração é a mão invisível que o mantém de pé.

Oxalá ouvísseis hoje a sua VOZ: não fecheis os vossos corações! (Sl 95,7)


Shalom!
© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brasil.
📧 nozickcjoe@gmail.com / fadacjay@gmail.com


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Chinaka Justin Mbaeri

A staunch Roman Catholic and an Apologist of the Christian faith. More about him here.

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