REFLEXÃO/HOMILIA PARA O SEXTO DOMINGO DA PÁSCOA, ANO B

NOSSO AMOR É INCOMPLETO SEM SACRIFÍCIO

Primeira Leitura: Atos 10:25-26,34-35,44-48
Salmo Responsorial: Salmo 97(98):1-4
Segunda Leitura: 1 João 4:7-10
Evangelho: João 15:9-17

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Na literatura grega, o amor era frequentemente categorizado em vários tipos distintos, cada um com suas próprias nuances e significados. Essas categorias ofereciam uma compreensão matizada da complexa emoção do amor. “Eros,” (Έρως), por exemplo, é um tipo de amor frequentemente associado ao amor apaixonado e romântico, caracterizado pelo desejo, anseio e atração física. Eros era retratado como uma poderosa, às vezes irracional, força que poderia consumir indivíduos. Frequentemente era representado como fugaz e transitório, focado principalmente na beleza física e atração. “Philia” (Φιλία) é um tipo de amor muitas vezes traduzido como “amor fraternal” ou “amizade”. Philia representa o vínculo profundo e afeição entre amigos ou companheiros. Baseia-se no respeito mútuo, confiança e experiências compartilhadas. Entre muitas outras categorias de amor, “Agape” – (Αγάπη) é frequentemente referido como amor altruísta, incondicional. É um amor transcendente e espiritual que se estende além do indivíduo e abrange toda a humanidade. Agape é caracterizado por compaixão, empatia e altruísmo. Não depende de ganho pessoal ou reciprocidade, mas é dado livre e generosamente. Na teologia cristã, o agape é frequentemente equiparado ao amor divino, exemplificado pelo amor de Deus pela humanidade e o amor que os fiéis são chamados a mostrar aos outros. Amigos amados em Cristo, este é o tipo de amor (agape) entrelaçado com a philia que caracteriza as leituras deste domingo, centralizado no evangelho, falado por Jesus, que nos chama a colocar em ação: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando.”

Jesus, na leitura do evangelho de hoje (cf. João 15:9-17), fala aos seus discípulos no contexto da Última Ceia, pouco antes de sua crucificação. Ele os tem preparado para sua partida, ensinando-lhes sobre a importância de permanecer nele e dar fruto (como lemos na leitura do evangelho do último domingo). Nestes momentos finais juntos, Jesus dá instruções pertinentes e palavras de encorajamento aos seus apóstolos. O trecho começa com Jesus reafirmando a relação íntima que ele compartilha com seus discípulos, comparando-a ao amor entre ele e o Pai: “Como o Pai me amou, eu vos amei.” Ele enfatiza a importância de permanecer em seu amor, preparando o cenário para a mensagem central do trecho, que é o seu “mandamento” de amor: amar uns aos outros como ele os amou. A palavra grega para “mandamento” usada no trecho é “ἐντολάς ” (entolás), que é a forma plural acusativa de “ἐντολή” (entolé), a palavra para mandamento.” Essa palavra é entendida como uma diretiva, ordem, comando, lei ou instrução dada com autoridade. Sua profunda significância reside em sua conexão com a obediência e o discipulado. Este mandamento serve como pedra angular da ética cristã, enfatizando o amor altruísta e o serviço sacrificial. Jesus modela esse amor ilustrando o ato final de devoção: dar a própria vida pelos amigos.

Quando Jesus diz a eles (no versículo 12) para “amar uns aos outros como eu vos amei,” o verbo grego para “amar” usado aqui é “ἀγαπᾶτε” (agapate), que é derivado da raiz “ἀγαπάω” (agapaó). Esta forma verbal, “ἀγαπᾶτε” (agapate) está no modo imperativo, tempo presente e voz ativa. Isso indica um comando (modo imperativo), ação contínua (tempo presente) e que o sujeito (vós, plural) realiza a ação (voz ativa). O modo imperativo enfatiza a urgência e importância do comando de amar. Assim, Jesus ordena a seus discípulos “ἀγαπᾶτε ἀλλήλους” (agapate allēlous), que se traduz para “amar uns aos outros.” Este amor, “ἀγαπᾶτε” (agapate) refere-se a um amor altruísta, sacrificial. Esse tipo de amor é caracterizado por cuidado incondicional, compaixão e boa vontade para com os outros. Não é apenas uma sugestão, mas uma diretiva do próprio Jesus. O tempo presente enfatiza a natureza contínua desse amor – não é uma ação única, mas um compromisso contínuo de amar os outros consistentemente. Ao conectar o mandamento de amar com seu próprio exemplo de amor sacrificial (“como eu vos amei”), Jesus estabelece um alto padrão para seus discípulos. Ele se torna o modelo de amor e chama seus discípulos – e por extensão, todos os crentes – a imitar esse amor em suas próprias vidas, que é caracterizado por humildade, desinteresse, compaixão, perdão, generosidade para com os outros e disposição de dar a própria vida pelos outros. A mensagem do trecho é clara: o verdadeiro amor é caracterizado por desinteresse e sacrifício. Jesus demonstra esse amor em sua expressão mais completa por meio de sua morte iminente na cruz, que ele suporta voluntariamente por amor à humanidade.

Além disso, Jesus eleva os discípulos de meros servos a amigos amados, indicando a profundidade da intimidade e confiança em seu relacionamento. Esta amizade não é baseada em mérito ou desempenho, mas no amor e graça incondicionais de Cristo, não apenas por seus discípulos, mas também por todos os crentes ao longo do tempo. Por isso, na Primeira Leitura (de Atos 10:25-26, 34-35, 44-48), vemos a extensão deste amor inclusivo aos gentios através do ministério de Pedro. Inicialmente, Pedro hesita em entrar na casa de Cornélio, um gentio, devido às normas culturais judaicas da época. No entanto, ele é instruído pelo Espírito Santo a não discriminar com base em etnia ou status social, mas a abraçar todos que temem a Deus e fazem o que é certo. Enquanto Pedro prega a Cornélio e sua casa, o Espírito Santo desce sobre eles, demonstrando a aceitação de Deus dos gentios na comunidade de crentes. Este evento desafia os limites tradicionais de exclusividade religiosa e expande o alcance do amor de Deus para incluir pessoas de todas as nações e origens. Aqui, vemos que o amor de Deus transcende as barreiras culturais, sociais e religiosas. A amizade de Jesus com seus discípulos serve como um modelo para o amor inclusivo que nós, crentes, somos chamados a incorporar, acolhendo todos na comunidade da fé de braços abertos. Como destinatários da graça e da amizade de Deus, somos chamados a estender o mesmo amor e aceitação aos outros, reconhecendo que todos somos amigos amados de Cristo, independentemente de nossas diferenças.

Baseando-se nesses antecedentes, a Segunda Leitura (de 1 João 4:7-10) reforça a centralidade do amor e seu papel fundamental na vida cristã, oferecendo lições práticas para incorporarmos o amor de Deus em nossas vidas e relacionamentos. O trecho declara que “Deus é amor” (1 João 4:8), destacando o amor como a essência da própria natureza de Deus. Isso reflete o mandamento de Jesus aos seus discípulos de amarem uns aos outros (no evangelho) e a natureza inclusiva do amor de Deus demonstrada na Primeira Leitura. Somos chamados a amar uns aos outros porque o amor origina-se de Deus. Como destinatários do amor de Deus, devemos refletir esse amor em nossos relacionamentos com os outros (cf. 1 João 4:7). Isso ilustra a instrução de Jesus a seus discípulos para amarem uns aos outros como ele os amou. João então passa a apontar para a expressão máxima de amor na morte sacrificial de Jesus Cristo por nossos pecados (1 João 4:9-10). Isso espelha a própria demonstração de amor de Jesus ao dar a própria vida por seus amigos (João 15:13).

Portanto, amigos amados em Cristo, assim como Pedro acolheu os gentios na comunidade de crentes, somos chamados a abraçar todas as pessoas com amor e aceitação, independentemente de diferenças ou origens. Nosso amor é incompleto sem sacrifício. Nosso amor pelos outros deve espelhar o amor altruísta e sacrificial de Cristo, servindo como reflexo do amor de Deus por nós. O amor não é apenas um sentimento, mas é demonstrado por meio da ação. Somos chamados a mostrar amor por meio de atos de bondade, compaixão e serviço aos outros. O amor tem o poder de transformar vidas e comunidades. Eleva indivíduos de meros conhecidos a amigos amados e fomenta uma profunda intimidade e confiança. Através de atos de amor sacrificial, as barreiras são derrubadas, e vidas são transformadas. Acima de tudo, devemos ter em mente que a obediência aos mandamentos de Deus está fundamentada no amor. Como destinatários do amor de Deus, respondemos amando-O e amando aos outros. Este amor nos motiva a obedecer aos seus mandamentos e refletir o seu amor em nossas ações. Como seguidores de Cristo, somos chamados a incorporar e estender este amor a todos, refletindo o amor de Deus em nossas vidas e comunidades.

Shalom!

© Pe. Chinaka Justin Mbaeri, OSJ
Seminário Padre Pedro Magnone, São Paulo, Brazil
nozickcjoe@gmail.com / fadacjay@gmail.com

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Chinaka Justin Mbaeri

A staunch Roman Catholic and an Apologist of the Christian faith. More about him here.

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